quarta-feira, 20 de maio de 2009

O Invasor e Via Láctea

Ao assistir O Invasor de Beto Brant e Via Láctea de Lina Chamie, conclui-se como a “polissemia” é fator determinante quando se trata de definir uma cidade como São Paulo. Enquanto o filme “O Invasor” retrata uma cidade desestruturada, o filme de Lina Chamie trata da mesma com uma poesia que chega a se tornar uma gratificação ser paulistano e brasileiro.
No filme de Beto Brant, com a simultaneidade de histórias chocantes e degradantes e a velocidade com que o filme se passa, percebe-se uma visão mais pessimista tanto dos cidadãos da cidade de São Paulo como do próprio Brasil. Anísio, o assassino contratado para matar Estevão, passa a se tornar, de certa forma, a metonímia da própria corrupção e da mediocridade social ao longo do filme.
A trama, cujo foco é tratar uma dura realidade da cidade de São Paulo (em contrapartida com a São Paulo poética e idealizada de Lina Chamie), retrata friamente como os cargos sociais e morais predeterminados pelo sistema não só paulistano como também brasileiro (e humano) podem ser extremamente falhos. Em um mundo onde sócios de 15 anos tentam se matar, a juventude não passa de um bando de hedonistas e policiais são corruptos, não se vê muita esperança. É isso que o jornalista procurou passar, mas indo além de um simples fato jornalístico e adentrando na própria essência brasileira. De certo modo, o pessimismo do filme busca resgatar uma das facetas da moral brasileira, que, por mais que seja chocante e cruel, está latente em cada um de nós, brasileiros.
Já o filme “Via Láctea”, em total discrepância com tudo já escrito, mostra uma outra faceta do cidadão de São Paulo ou, talvez, até várias, como visto no filme a sentença: Cidades Invisíveis. De certo modo, pode-se interpretar tal sentença como uma maneira de dizer que não há forma certa de retratar São Paulo. São tantos aspectos, tantas cores, tantos sons, tantas caricaturas que nos sentimos em uma certa “vertigem”, e deixamos de ver muitos outros pontos de vista viáveis para definir a cidade.
Ao tratar da relação do casal Júlia e Heitor em diversas versões e interpretações semióticas, a cidade passa a ganhar vida na narrativa. A menininha pedindo esmola vem consolar Heitor num momento de angústia, o assaltante rouba o relógio pra mostrar a falta de tempo que Heitor tem para recuperar Júlia, o rádio conversa com Heitor enquanto ele está preso no trânsito, impossibilitado de lutar para que a relação perdure, de uma certa forma mostrando a impotência do próprio ser humano diante de sua vida. Pode-se dizer que a cidade “conspira”, seja para atrapalhar ou ajudar a relação dos dois.
O filme em si é um tributo a São Paulo, seja pelo tempo que ela nos toma (o trânsito enlouquecedor, por exemplo), seja pelo que ela nos ensina (a livraria onde Heitor e Julia conversam, por exemplo), seja pelo que ela nos amedronta e intimida (o assaltante, o funeral, o acidente).
Enfim, após tantas análises e controvérsias, uma conclusão surge: São Paulo faz parte do Brasil e define um tipo muito específico mas ao mesmo tempo extremamente característico do Brasil: o paulista.

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